quinta-feira, julho 13, 2017

O choro dos velhos bebés

São quase dez horas da noite. O bebé do meu vizinho está a chorar a plenos pulmões há mais de meia hora. Terá fome? Estará com frio? Fralda suja? Talvez esteja doente. Porquê é que o choro dos bebés nos incomoda tanto? Pode estar a pedir colinho. O mais provável é estar com muito sono. Continua a gritar. Ninguém gosta de ouvir um bebé a chorar.

Recentemente tive a graça de orientar uma apresentação de um encantador bebé ao Senhor, na nossa congregação. A maior parte dos evangélicos não baptiza os seus bebés porque considera o baptismo uma coisa séria demais para meninos. O baptismo é para gente grande que conhece e reconhece o seu pecado. O baptismo nas águas é para aqueles que sabem porque é que Jesus morreu, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. No decorrer da apresentação ao Senhor, o bebé choramingou um pouco. É normal. Por muito que custe aos pais, uma das maneiras que os bebés se fazem notar neste mundo é com o choro. Choram quando têm fome, sono, medo, quando estão doentes. Era bom que muitos destes bebés chorassem todos os Domingos nas igrejas locais! Enquanto decorria a apresentação, foi interessante perceber que o bebé parava de chorar quando ouvia a música e quando começávamos a cantar louvores a Deus – todos os meninos gostam dos louvores a Deus. Para grande júbilo dos pais, avós e padrinhos, ouviu-se muita música naquela apresentação.

A Bíblia diz que também existem bebés espirituais nas igrejas (1 Coríntios 3:1; Hebreus 5:12, 13; 1 Pedro 2:2). Existem os crentes novos que são bebés na fé e há os bebés velhos que estão doentes na fé. Crentes novinhos, que estão ávidos da boa Palavra de Deus e crentes velhos, que desprezam e vomitam a boa comida. O escritor aos Hebreus fala deste tipo de bebés chorões (Hebreus 5:12-14). Estes velhos bebés chorões são pessoas imaturas que cresceram mal ou não cresceram como deviam, face ao tempo que se dizem crentes. Pensam, falam e portam-se como meninos. Choram, amuam, fazem birras, desistem de crescer, querem atenção. Normalmente, estes bebezões reclamam muito e estão sempre descontentes com tudo. Queixam-se da sua igreja local, dos crentes, dos líderes, da música, das pregações, protestam contra tudo e todos. São velhos protestantes, não os descendentes da boa Reforma, mas velhos imberbes com barba que nunca cresceram. No jardim da vida real, esta infantilidade é tal qual erva daninha que sufoca o sol e a frescura da vida.

A única maneira de um bebé começar a crescer é começar a alimentar-se bem. O melhor alimento espiritual é a Palavra de Deus. Só quando o crente medita e pratica os “primeiros rudimentos das palavras de Deus” que começa a ficar gente grande na fé. Se um crente despreza o “a-e-i-o-u” dos fundamentos da fé, não admira que seja e se porte como um bebé espiritual. Um bom sinal de maturidade espiritual é amar a Palavra de Deus, a sã doutrina. Um outro indício de bom crescimento é, ao invés de estar sempre pronto a apontar as falhas dos outros, reconhecer com as suas próprias falhas e pecados. É saber valorizar o que é eterno e desvalorizar o que é efémero. É amar e perdoar. É cair, levantar-se e continuar a caminhar.

O bebé do meu vizinho calou-se. Deve ter adormecido. O choro também cansa. O adulto que é adulto crescido, tem paciência para confiar e esperar na graça abundante do Pai celestial. Sabe que nada pode realizar sem Ele e sem a Sua Palavra. O Pai, afinal de contas, tem soberanamente todos os pequenos e graúdos nas Suas poderosas mãos. O nosso desafio pessoal é crescer todos os dias um pouco mais. Não ficar estagnados, antes “crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e a dar-lhe glória, assim agora como no dia da eternidade. Amém!” (2 Pedro 3:18).


Jorge Oliveira
(Crónica publicada na edição nº 166 - Julho-Setembro 2017, na Revista Refrigério)

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